20 abril, 2011

Bento XVI explica sentido do Tríduo Pascal


Caríssimos irmãos e irmãs,
Enquanto vai se concluindo o itinerário quaresmal iniciado com a Quarta-feira de cinzas, a atual liturgia da Quarta-feira Santa é introduzida já num clima dramático dos próximos dias, permeados pela recordação da paixão e da morte de Cristo.

Na liturgia de hoje, de fato, o evangelista Mateus repropõe em nossa meditação o breve diálogo ocorrido no cenáculo entre Jesus e Judas. "Rabbi, serei eu?", o traidor pergunta ao Divino Mestre, que havia pré-anunciado: "Em verdade eu vos digo, um de vós me trairá". Forte é a resposta do Senhor: "Tu o dizes" (cf. Mt 26,14-25). De sua parte, São João encerra a narração do anúncio da traição de Judas com poucas significativas palavras: "Era noite" (Jo 13,30).

Quando o traidor abandona o Cenáculo, enche-se de trevas o seu coração – é noite interior –, cresce a desorientaçã na alma dos outros discípulos – também eles estão sobre a noite –, enquanto as trevas de abandono e de ódio envolvem o Filho do homem que se teria de se consumir em seu sacrifício sobre a Cruz. Aquele que comemoraremos nos próximos dias é o confronto supremo entre a Luz e as Trevas, entre a Vida e a Morte. Devemos situar-se também nós neste contexto, conscientes da nossa "noite", das nossas culpas e das nossa responsabilidade, se queremos reviver com proveito espiritual o mistério pascal, se queremos aproximar-se da luz do coração diante deste mistério, que constitui a motivação de nossa fé.

O início do Tríduo Pascal é a Quinta-feira santa, amanhã, durante a Missa Crismal, que pode ser considerada como o prelúdio ao Tríduo Santo, o Pastor diocesano e seus mais próximos colaboradores, os presbíteros, próximos do Povo de Deus, renovam as promessas formuladas no dia da Ordenação Sacerdotal.

Trata-se, ano após ano, de um momento de forte comunhão eclesial, que põe em relevo o dom do sacerdócio ministerial deixado por Cristo à sua Igreja, a vigília de sua morte na Cruz. E para cada sacerdote é um momento comovente nesta vigília da Paixão, na qual o Senhor que deu-se a si mesmo, que deu o sacramento da Eucaristia, que deu o Sacerdócio. É um dia que toca todos os nossos corações. Vem, em seguida, abençoar os óleos para a celebração dos Sacramentos: o Óleo dos Catecúmenos, o Óleo dos Enfermos e o Santo Crisma.

A tarde, entrando no Tríduo pascal, a comunidade cristã revive na Missa na Ceia do Senhor o que ocorrerá durante a última ceia. No cenáculo o Redentor deseja antecipar, no Sacramento do pão e do vinho transformados em seu corpo e em seu sangue, o sacrifício de sua vida: ele antecipa a sua morte, doa livremente a sua vida, oferece o dom definitivo de si à humanidade.

Com o ato do lava-pés se repete o gesto com o qual Ele, tendo amado os seus, amou-os até o fim (cf. Jo 13,1) e deixou aos discípulos como diferencial este ato de humildade, o amor até a morte. Após a Mssa da Ceia do Senhor, a liturgia convida os fiéis a ficar em adoração ao Santíssimo Sacramento, revivendo a agonia de Jesus no Getsêmani. E vemos como os dicípúlos dormiram, deixando o Senhor sozinho.

Também hoje frequentemente dormimos, nós seus discípulos. Nesta noite santa do Getsêmani, queremos estar vigilantes, não queremos deixar o Senhor sozinho nesta hora; assim poderemos compreender melhor o mistério da Quinta-feira Santa, que engloba o tríplice e sumo dom do Sacerdócio ministerial, da Eucaristia e do Mandamento novo do amor (ágape).

A sexta-feira Santa, que comemora os eventos que vão desde a condenação a morte até a crucifixão de Cristo, é um dia de penitência, de jejum e de oração, de participação da Paixão do Senhor. Na hora estabelecida, a Assembléia cristã revive, com a ajuda da Palavra de Deus e dos gestos litúrgicos, a história da infidelidade humana ao desígnio divino, que, todavia, é realizada propriamente assim, escuta-se novamente a comovente narração da Paixão dolorosa do Senhor. Dirige-se, em seguida, ao Pai Celeste, uma longa “oração dos fiéis”, que abrange todas as necessidades da Igreja e do mundo.

A comunidade adora em seguida a Cruz e se aproxima da Eucaristia, consumindo as santas espécies conservadas na Missa da Ceia do Senhor do dia anterior. Comentando sobre a sexta-feira santa, São João Crisóstomo observa: “antes a Cruz significava desprezo, mas hoje esta é coisa venerável, antes era símbolo de condenação, hoje é esperança de salvação. É encontrada, sem dúvida, surgindo dos infinitos bens: tem libertado dos erros, dispersado as nossas trevas, se faz reconciliados com Deus, dos inimigos de Deus se fez seus amigos, dos estrangeiros se fez próximo: esta cruz é a destruição da inimizade, é o surgimento da paz, o cofre do nosso tesouro” (De cruce e latrone I, 1,4).

Para reviver de maneira mais participativa da Paixão do Redentor, a tradição cristã deu vida a múltiplas manifestações de piedade popular, entre as quais as notáveis procissões da Sexta-feira santa, com os sugestivos ritos que se repetem em cada ano. Mas o grande exercício, é aquele da “Via Crucis” (a via Sacra), que oferece durante todo o ano a possibilidade de imprimir de maneira mais profunda em nossa alma o mistério da Cruz, de andar com Cristo sobre esta via e assim conformar-se interiormente a Ele. Podemos dizer que a Via Crucis educa, para usar uma expressão de São Leão Magno, a “guardar com os olhos do coração Jesus Crucificado, de modo a reconhecer em sua carne a nossa própria carne” (Discurso 15 sobre a paixão do Senhor). E está propriamente aqui a verdadeira sabedoria do cristão, que queremos partilhar seguindo a Via Crucis própria na sexta-feira Santa no Coliseu.

O sábado santo é o dia na qual a liturgia se cala, o dia do grande silêncio, e o cristãos são convidados a manter um recolhimento interior, difícil de se cultivar em nosso tempo, para preparar-se melhor á Vigília Pascal. Em muitas comunidades são organizados retiros espirituais e encontros de oração mariana, quase para unirem-se á Mãe do Redentor, que aguarda com intrépida confiança a ressurreição do Filho crucificado. Finalmente na Vigília pascal o véu da tristeza, que envolve a Igreja pela morte e sepultura do Senhor, é infringido pelo grito da vitória: Cristo ressuscitou e venceu para sempre a morte!

Poderemos agora compreender de verdade o mistério da Cruz, “como Deus pode criar prodígios até no impossível – escreve um antigo autor – a fim de que se saiba que somente ele pode fazer aquilo que ele quer. A partir de sua morte a nossa vida, de suas chagas nossa cura, de sua queda nossa ressurreição, de sua descida nossa subida” (Anônimo Quartodecimano). Animados pela fé salutar, no coração da vigília pascal acolheremos os neo-batizados e renovaremos as promessas do nosso batismo. Experimentaremos assim que a Igreja é sempre viva, se rejuvenesce, é sempre bela e santa, porque se apóia sobre Cristo que, ressuscitado, não morre mais.

Queridos irmãos e irmãs, o mistério pascal, que o tríduo santo nos fará reviver, não é somente lembrança de uma realidade passada, mas é atual: Cristo também hoje vence com o seu amor o pecado e a morte. O Mal, em todas as suas formas, não tem a ultima palavra. O triunfo final é de Cristo, da verdade e do amor! Se com ele estamos dispostos a sofrer e a morrer, nos recorda São Paulo na vigília pascal, a sua vida se torna nossa vida (cf Rm 6,9).

Sobre esta certeza repousa e se constrói nossa vida humana. Invocando a intercessão de Maria Santíssima, que seguiu Jesus pela via da Paixão e da Cruz e o abraçou após a sua deposição, desejo que todos vocês participem devotamente ao Tríduo Pascal para saborear a alegria da Páscoa junto com todos aqueles que são lhes caros.


Tradução: Canção Nova

http://www.cancaonova.com/portal/canais/news2/emfoco.php?id=28681
Postado por Anna Maria, Ir Maria Pia

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Postado por Fatima Freitas